quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Uma Crônica Para Pedro


Pedro, meu Pedro, meu filho.
Menino apressado que com sete meses e meio de gestação resolveu inaugurar-se e contrariar o funesto diagnostico de morte com a liturgia da vida.
“Seu filho não sobreviverá!”
Afirmava o médico mostrando os seus diplomas.
“Não temas, crê somente” (Marcos 5.36)
Assegurava o Médico dos médicos (Jesus) demonstrando o seu poder.
E assim foi o teu primeiro dia de vida. Dia de milagre. Porém, o maior milagre foi você!
Mas, eras tão pequeno, bastava uma só das minhas mãos para te segurar por inteiro. E era tão frágil, qualquer friagem poderia ser fatal. No entanto, havia sede de vida, vontade de vida, desejo de vida, tão intenso que teus olhos brilhavam renovando a nossa fé.
Pedro, meu Pedro, meu filho.
Agora, estais completando o teu primeiro ano e foram tantas as vitórias, dia a dia, semana a semana, momento a momento que enumerá-las torna-se uma dificílima tarefa. O teu sorriso mágico tem a capacidade de demover os meus habituais e cotidianos estresses. Tua curiosidade infantil é aventureira e desbravadora, grande causadora dos nossos sustos primários. Teu cabelo dourado é um raio de sol que resolveu morar ali. O teu sono tranqüilo é a própria imagem da paz.
Já te arriscas alguns passinhos e meu coração aos pulos sofre com as tuas quedas e teus pequenos machucados, todavia, tem plena consciência do quanto eles são necessários para o teu desenvolvimento.
As palavras ainda não fluem na tua comunicação e tentamos compreender o quase indecifrável idioma comum dos bebês e as nervosas gesticulações incontidas.
Eu quero que estas palavras, junto com o meu amor embalem não apenas os teus sonhos, mas o de todas as crianças dessa terra.
Um dia, eu sei, tu iras ler esta crônica e então saberás o pai bobão que eu sou, desajeitaaaado, mas, loucamente apaixonaaaado por você, que não tendo mais como falar resolveu apenas te chamar: Pedro, meu Pedro, meu filho.
(Pedro Lucas faz aniversário dia 11 de outubro, véspera do Dia das Crianças. É o meu segundo filho, um milagre de Deus, pois fora dito que não sobreviveria, mas o Senhor lhe deu a vitória da vida).
Este texto foi escrito quando Pedro Lucas completou seu primeiro ano de vida. Hoje ele faz cinco anos, resolvi revisitar o texto publicado em 2008 no brejo.com.
Infelizmente não tem festinha, pois está dodói, já vomitou 3 vezes e está na nebulização e medicado com corticóides. Creio em Deus que estará melhor para fazermos uma gostosa comemoração.

N’Ele, nosso PAI.  

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Depois da Tempestade





"Nem sempre segue a bonança, mas contabilizar as perdas é certo"


Passada as eleições (ao menos onde não terá o 2º turno) é hora de juntar os cacos.
Quantas “profecias” não cumpridas.
Quantos “homens de deus” sem ter onde por a cara.
Quantas “igrejas” manchadas.
Quantos “rebanhos” divididos.
Quanta vergonha ao Nome do Senhor.
Os judeus levavam a sério o mandamento de não tomar o Nome do Senhor em vão. Eles geralmente se escandalizam com o modo vão, corriqueiro, inútil e até mesmo vil de usarmos o nome que simboliza o que entendemos de mais sagrado. É claro que usar o Nome do Senhor em vão não se trata apenas da pronunciação do nome em si, mas de como fazemos dele um elemento no jogo de ganha e perde de nosso dia a dia. Usar o Nome do Senhor em vão é quanto se acorda tendo-o por testemunha e descumprem-se o acordado, quando se prega e não se vive, quando se usa o Nome para fins pessoais e egoístas.
E em “nome de Jesus” se decretou vitórias de uns, derrotas para outros.
E em “nome de Jesus” se determinou territórios ungidos.
E em “nome de Jesus” se barganhou rebanhos.
E em “nome de Jesus” se negociou acordos.
Em nome de Jesus...
Não devemos ser apolíticos, precisamos saber como está o mundo a nossa volta e ter compromissos com a sociedade em que estamos inseridos para a transformação pelos princípios da Palavra. Não podemos viver de “glórias e aleluias” alienados das questões que angustiam a cidade em vivemos. Até porque, quando o Cristo nos encontra e faz morado em nosso ser, começamos a enxergar o outro e suas necessidades. O egoísmo deve dar lugar ao altruísmo cristão.
O que não devemos é fazer política do mesmo modo, com os mesmos recursos indignos, com os mesmos acordos espúrios, as mesmas atitudes nefastas das raposas alojadas em nossa república. Por que vencer a qualquer custo? Por que render-se ao mercado da politicagem? Por que os “crentes” precisam participar de comemorações que procuram ridicularizar os adversários?
Deveríamos ser diferentes.
Mas... os cacos estão espalhados... se ao menos fossem corações quebrantados, em vez  dos embates entre vencidos e vencedores.
Ninguém me contou, sei dos casos de profunda desunião entre os irmãos por conta das escolhas partidárias. Lamentável.
Estou triste!
Muito triste.
Devemos ser uma comunidade unida por laços fraternos de fé, amor e esperança. Devemos desenvolver o cuidado com as pessoas e devemos buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e sua Justiça. No entanto, perdemos ricas oportunidades de discutimos, sem preconceitos ou paixões políticas irracionais as demandas de nosso município frente às propostas dos candidatos e assim, examinarmos a mais real e verossímil, além de escrutinar os candidatos, seus históricos e filosofia de vida, para assim pensarmos um apoio, e isso longe do púlpito, pois é o lugar de exposição da Palavra não de discursos e propagandas. E sabendo que isso é apenas um dos passos primordiais para a cidadania.
Mas, o que vimos, foi frustrante, e como dói ver “igrejas” caindo no canto das raposas, encantadas em poder está tão próximas do poder.
Porém, eu tenho esperança.
Já disseram que eu sou um sonhador.
Prefiro sonhar, embora com os pés no chão, afinal: “quem não sonha não vive”, já dizia Ariano Suassuna.
Lembro-me do ultimo evento da campanha. Presenciei porque passou em minha rua e do segundo andar onde moro tenho uma ampla visão, que talvez fosse melhor não ter, pelo menos naquele dia. Eis que diviso em meio à multidão uma figura peculiar. De paletó e gravata, Bíblia de um lado da axila, com uma bandeira do “Povo Santo” numa das mãos agitando e pulando, junto com a multidão estava um intitulado pastor.
Não!
Não teria sido um pesadelo?
Uma dessas visagens?
Um delírio?
Não era.
Era real. Verdadeiro.
Não achei graça nenhuma!
Derruba pessoas no cai-cai do paletó, capaz de pulos e gritos espirituais incríveis, falar línguas de todo tamanho, e é incapaz de discernir um comportamento inadequado. Seguia os trios em êxtase num desserviço ao Evangelho.
O alívio é que a língua dos votos era outra, e ele não viu, nem ouviu (tirem suas conclusões).
Inseri esse fato no texto por achá-lo emblemático, e quero crer que foi isolado, pois, minha intenção era de uma reflexão na maneira dos evangélicos manifestarem-se na política.
A política de um povo santo deve ser no mínimo santa.

N’Ele, que elegeu seu povo antes da fundação do mundo.

P.S: Se em sua comunidade se deu o diferente, a reflexão do momento com responsabilidade e serenidade, desconsidere o texto, ele fala da realidade conhecida pelo autor. 

sábado, 6 de outubro de 2012

Quando Acordou, O Paletó Ainda Estava Lá



O cerimonialismo farisaico de nossa religiosidade protestante (evangélica) é paradoxal, confuso e em muitos aspectos incoerente. Digo isto por ser evangélico protestante, não sou desigrejado e tenho pavor e desconfiança de quem não consegue relacionar-se em comunidade e passa a atirar as pedras que lhe cabem.

Dediquei grande parte de minha juventude, ou pelo menos os anos de maior fervor energético, no cuidado com minha família e ajudando a Igreja em que me “igrejava”. Foi o calor de servir numa comunidade com erros e acertos, mas, cheia de companheirismo e amizade, surgida pelo tecer da Palavra que aprendi a pensar o Evangelho não como uma utopia platônica, um ideal de Igreja a ser alcançado, mas, de viver o pé no chão do Evangelho, com suor, lágrimas, sangue, sorrisos, abraços e muitas despedidas.
Tive muita sorte (leia-se propósito de Deus) de conhecer muita gente boa trilhando o Caminho da Graça com graça. E pude discorrer sobre filosofia e teologia com as pessoas mais improváveis neste universo protestante repleto de rótulos pedantes e academicismos sem fim. Muitos dos “teólogos” que me socorreram não tinham diplomas na parede para ostentar. Sentavam comigo, às vezes na EBD, e durante a semana vendiam cachorro quente em carrocinhas; outros eram sacoleiros, prestamistas e alguns traziam a rudeza da lida expostas nas mãos, mas transbordava ternura no coração.
Não estou fazendo uma defesa ao lugar comum, a ignorância simplista temerosa do conhecimento. Isto é um absurdo! Uma vez que o povo peca por falta de conhecimento, e o intelectual, por não considerar nem conhecer o poder de Deus.
Precisamos estudar academicamente, cientificamente, metodologicamente, com tremor e temor a Palavra de Deus para poder servir ao nosso Deus espalhando esse conhecimento em nossas comunidades. As nossas instituições, que são dedicadas a tal missão não podem ceder a tentação de transformar o conhecimento numa arma para a criação de classes especiais de modernos sacerdotes, as castas do saber.
Estou dizendo estas coisas porque não fomos capazes de repensar cerimonialismos e tradições sem significado algum para a fé cristã, mas, que nos são apresentadas como símbolos identificadores de uma fé.
Hoje pela manhã, enquanto procurava um calção deparei-me com meu velho paletó (leia-se terno completo). Faz tempo que ele está lá. Deve está perto de completar dois anos que não o uso. É bonito, deixa o homem elegante e com pinta de ser alguma coisa, principalmente quando se está diante de uma comunidade pobre e humilde.
Aborreci-me dessa indumentária tão típica em nosso meio e tão inútil ao coração da fé. Lembro-me a primeira vez que cheguei à Igreja com tal indumentária, e o espanto apreciativo de todos. Recebi muitos elogios e quase acreditei que aquele composto de tecidos sobrepostos me fizesse ser algo superior. É um grande perigo que se corre com essas tradições que caduca a fé.
Tenho feito o possível para não usá-lo. Não como uma birra infantil, mas por não me sentir confortável e ser totalmente dispensável para nossa vivência real de Cristo em nós. Ainda mais nesse calorão que faz em nossa terra.
Pago o preço desta minha escolha. Tudo na vida tem uma conseqüência. Noto em muitos irmãos uma desconfiança felina além do olhar frustrante de saber que o pregador vai ocupar o púlpito de mangas curtas. No trajeto que faço a pé até a Igreja aos domingos, percebo o desprezo de alguns ao encontrar e saudar um presbítero tão deselegante. Isso porque não citei os que com uma superlativa superioridade do alto de suas vestes, fitam-me de cima abaixo como se eu fosse uma afronta aos “padrões” da fé.
Fazer o que?
Dia deste sobrou até para o Tony (Arte de Chocar). Vieram denunciá-lo a mim, pois ele estava no Culto, louvando de boné, e isso era um absurdo.
Ah! Teve quem viesse “entregar” alguns jovens que estavam participando da EBD de bermudão...
Ora, tem coisa mais gostosa que chinelo de dedo, um velho calção, camisa leve de malha e a liberdade de um Deus que se aninha em meu peito e me convida a adorar em espírito e em verdade.
Mas o contrário também é verdadeiro. Há quem aprecie e goste dos trajes por elegância e etiqueta, sem, no entanto, deixar-se levar pela vaidade ou tradições de usos e costumes. Isso é legal e faz parte da convivência comunitária, até porque tem ocasiões que somos que obrigados as sociais.
E o paletó, quando acordei, continuou lá...
Veio uma de parodiar Vinícius...

Um velho calção de banho
O dia pra adorar
O Deus que não tem tamanho
Sua graça inteira no ar.

O Cristo viver seguindo
E sentir o alívio no corpo
Sorver do Mestre o ensino
Como uma água de coco.

É bom...
Passar uma tarde em Jacumã
Ao sol que arde em Jacumã
Ouvir o Senhor em Jacumã
Servir a Deus em Jacumã.

Especialmente para o Tony, Silvano, Jairo e todos os jacumistas de plantão.
N’Ele, em quem andamos, respiramos e existimos.

P.S: Para o título deste artigo peguei por empréstimo o miniconto do escritor guatemalteco Augusto Monterosso, substituindo o dinossauro, é claro               

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Ouço Música ao Longe...



Perdoem-me!

Não sou evangélico fundamentalista, bitolado e fanático, personagem tão comum em nosso tempo. Alguns cheiram Bíblias, outros são especialistas no toque do shofar, tem ainda, os que chamam de “trouxas” a quem crê, ama e recusa barganhar a fé cristã. Ah! Não podemos esquecer os que vendem unção, os que uivam, engatinham, mergulham-se em óleo e metem medo pela bizarrice com que demonstram seu extravagante “evangelho”.
Desculpem-me!
Não sou protestante puritano, hiper-calvinista, não pertenço em essência a nenhum dos rotulantes “ismos” tão presentes em nossa história-igreja. Alguns estratificam a fé, outros na ânsia da racionalização da fé, deserdam-nos do seu dulçor e como estranhos iluministas, diabolizam a mais natural emoção que se dá do encontro do perdido com o Salvador que nos torna filhos. Não podemos esquecer-nos dos que materializam mecanicamente o Caminho e são tão eficientes em defenderem conjuntos doutrinários sistematizados que idolatram os heróis e esquecem da misericórdia, amor e perdão.       
Perdoem-me!
Não sou evangélico imbecilizado que vaga servil, correndo atrás dos seus líderes carismáticos, reproduzindo grunhidos e imitando as gesticulações patéticas como quem segue os tripulantes de um trio elétrico.
Desculpam-me!
Não sou crente medíocre, fascinado com a espiritualidade plástica, impactado pelos milagres fabricados e os testemunhos produzidos pela indústria da fé (crendice).  Tolo a ponto de sujeitar-se a tirania apossada do púlpito, o qual anda reluzindo o ouro e prata de suas conquistas.        
Vão às favas!
Os pseudos vencedores que vendem o Evangelho, que fazem de sua mensagem um misticismo doentio, uma ferramenta de captação de recursos financeiros livres de impostos e preparados para uso ardiloso e vil. 
Apartai-vos de mim!
Os que arregimentam exércitos de seguidores marionetados, incapazes de uma reflexão aguda e de conduzir sua fé na estrada segura da Palavra, a qual é fundamentada na inspiração divina e ilumina nosso caminho.
Arreda!
Bandidos de Bíblias em punho como arma de manipulação e domínio. Negociantes incansáveis e insaciáveis pelos privilégios mundanos, sustentados pelo suor e sangue dos incautos peregrinos que de “igreja” em “igreja” buscam na penitência do dízimo o alívio para suas almas.
Ouço musica ao longe...
Ela me acalma e tem a capacidade de me conduzir ao sonho de dias melhores. Não! Não é a utopia platônica de um mundo sempre lá, no eterno: o “outro”. Mas, uma luta constante a partir de mim e de cada um que crê, (e não são tão poucos assim) não deixando esmorecer a fé naquEle que é o seu Autor e Consumador.
Ouço música ao longe...
O Evangelho é música.
Música com cheiro, tom, textura e sabor de vida nova. Regenerada! Vida pra ser vivida, sorvida, deglutida e transformada em frutos que permaneçam. Frutos da salvação. Frutos que não pesam, não aprisionam, não machuca o indefeso crente.
O Evangelho é música feita para crer, pensar, viver.

“O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis”   (Grupo Logos)

N’Ele, que dá ritmo santo a nossa vida.