sábado, 14 de julho de 2012

Cultura Não Faz Mal





A ignorância é uma das razões para serem criados mitos, preconceitos, mal entendidos e tradições ilógicas. Dela os fascistas, ditadores e tiranos souberam tirar proveito e se apropriar do bem maior de cada povo, a liberdade. É por causa dela que a religião tentou sufocar o cristianismo de Cristo e paralisar o desenvolvimento científico e filosófico. É a ignorância que dá margem para a maior parte das mazelas que invadiram e deturpam a mensagem da Igreja.
Não falo de ignorância como a falto do saber acadêmico, por que este saber, também, é um incrível gerador de preconceitos e discriminações, e não é ele quem diz ou mede a nossa sabedoria. Falo de ignorância como razão de ser, fruto de misticismo e crendices aprisionantes e incubadora das mais ardilosas manias e fetiches humanos.
Ignorância que trava a alma e obscurece o entendimento, lançando as pessoas no indiferentismo e promovedora do ódio em escala destrutiva e mortal. A ignorância transforma ritos religiosos - herança de uma tradição, em revelação sacra da vontade divina.
Acreditava que com o desenvolvimento natural de nossa gente e o acesso a universidade um pouco mais democratizado, muitas de nossas esquisitices evangélicas serias vencidas ou relegadas a uma época ou geração.
Ledo engano.
Certas manias foram apenas substituídas por outras de igual sentido. O misticismo e as crendices fazem sucesso em nosso meio, e velhas percepções infundadas continuam vivíssimas e fronteirizando como um cárcere muitos dos que se creditam evangélicos.
É complicado conversar ou manter um debate saudável sobre um tema cultural com os “irmãos”. É preciso ter cuidado ao expor seu pensamento sobre filósofos e filosofia, ou mesmo sobre as conquistas científicas, como por exemplo, o bólson de Higgs. Você pode ser entendido como um herege, sem fé, frio, sorveteriano ou congelacional,e por ai vai.
Entendo as artes como dom de Deus. Elas devem ser usadas para a glória d’Ele, mas parece que há uma castração artística quando da conversão ou quando da educação disciplinar quando se é desde o berço evangélico.
Minha análise parte da década de 80, quando tomei conhecimento do mundo evangélico, e uma das minhas maiores frustrações era a falte de aproveitamento da veia artística e cultural de todo um povo.
Teatro, cinema, música, poesia, artes plásticas, quadrinhos, pinturas, etc. Onde ir o que fazer?
Por que transformar tudo que foi produzido pelo engenho humano (é claro que Deus está no controle e é por sua permissão que o que foi produzido o foi) em obra danosa ou maligna?
Lembro-me de um irmão que sofreu deveras por causa de sua arte, a pintura. De outros que liam livros escondidos para que o Pastor ou os outros irmãos não soubessem. Das irmãs que ao usavam brincos ou batom, nem um adereço qualquer por conta do linchamento social nas igrejas com a confusão nos usos e costumes. E dos irmãos que sofreram perseguição velada por gostar de rock in Roll. Lembro de bateria e guitarra listados como instrumentos impróprios para os cultos. Das mensagens em que o computador era apresentado como o anti-Cristo.
Ora, muitas vezes só em demonstrar seu interesse pela história e seus personagens, o olhar crítico de alguns já importunam nossa exposição.
Por sinal, a pregação expositiva, na qual todos esses elementos (cultura, geração, história, língua, teologia) são levados em questão para uma interpretação e aplicação corretas tem sido a mais negligenciada pelos púlpitos, sempre prontos a entreter o auditório.
Um pouco de cultura não faz mal.
Podemos ser crentes sem ser medíocre, afinal o Evangelho é simples, mas, não é simplório.
“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Oseias 6.3)
E quanto mais conhecemos d’Ele, menos ignorância temos, mais de cultura apreciamos, menos irascível somos, nenhuma crendice temos, mas, vivemos por fé naqu’Ele qué é o Autor e Consumador da Fé.

N’Ele, que nos liberta.

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