sexta-feira, 2 de março de 2012

A Morte de Um Servo de Deus




“Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos”
Salmos 116.15
            É sempre difícil lidarmos com a morte. Somos seres da vida. Criados para viver e que por errar o alvo passamos a experimentar o terror da morte. Virou a certeza máxima de todos enquanto nesta terra, pois sabemos que ao final de nossa caminhada havemos de enfrentá-la, preparados ou não. Igualitária e justa não faz distinção entre classes sociais nem entre poderosos e desfavorecidos, todos estão sob o rigor do seu domínio.
            E por causa de nossa compreensão de vida, mundo e existência estar sempre sendo construída a partir da medida do homem, tudo é trágico, ou normalidade sem sentido.
            Um dos impactos do cristianismo em face das propostas religiosas e filosóficas ainda sob a égide do Império Romano, foi justamente a forte mensagem que redefinia a morte e a vida. Em vibrantes antíteses a vida poderia ser morte e a morte vida. No centro vital da mensagem era a não finitude diante da morte. Ela não era a etapa final de nossa existência e havia como vencê-la, crer em Cristo Jesus. Mesmo em meio à dor da perda de seu amadíssimo irmão, Marta e Maria são surpreendidas pelo revelar do Senhor acerca da morte e da vida. (João 11).
               A fé genuína no Filho de Deus nos conduz a um caminho que rompe com todas as impossibilidades para o homem. No entanto, a morte permanece como um condicionamento a todo ser vivo até a manifestação da gloriosa volta do Senhor quando a própria existência será transformada em natureza divina.
            A mensagem do Evangelho tem sido profundamente prejudicada por uma grande parte da “Igreja Evangélica” de hoje. O triunfalismo que assola as mensagens em muitos púlpitos, associada a uma visão antropocêntrica no culto, tem causado uma paralisia no pensar bíblico e uma miopia para a vida cristã. Mensagens como “pare de sofrer”, ou “todo sofrimento acabou”, trás uma idéia contrária ao que expõe o Evangelho construindo na cabeça do incauto “crente” a utopia de um campo força que o protege de tudo e de todos. Uma redoma impenetrável que o mantém a salvo de toda tribulação. Um “reino” de Deus cuja realização se dá no mundo caído. Essa teologia sofre abalos sísmicos diante da morte, às vezes repentina dos servos de Deus.
            Fechamos os olhos para livros como o de Jó?
Ou para a galeria dos heróis da fé em Hebreus 11, ou ainda, com a história eclesiástica com episódios marcantes, muitos deles descritos na obra de John Fox, O Livro dos Mártires?
Tribulação, perseguição e morte seguem a história do cristianismo sem, contudo ser um fim em si mesmo, mas, parte do enigma da Graça, que nos transforma em adoradores e não consumidores; filhos e não clientes; servos e não sócios de Deus.
Aprendamos com a narrativa bíblica a compreender tempos e tempos, a decodificar os mais dolorosos acontecimentos e as mais duras perdas dentro da soberania de Deus, que sendo verdadeiramente Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam.
Aprendamos com a narrativa bíblica a nos mantermos firmes na fé, no amor e na esperança ainda que a figueira não floresça, a terra não produza o grão, o gado seja arrebatado do curral e a videira não floresça, todavia esperarei e louvarei ao Deus da minha salvação.
Em Cristo, que venceu a morte.
P.S: Este texto foi escrito com profundo pesar pela morte de forma trágica do homem de Deus Bispo Robinson Cavalcante e sua esposa Mirian. Foram assassinados a facadas pelo filho adotivo, em casa, quando voltaram do culto na Igreja Anglicana do Recife. Servo do Senhor, que deixou um legado de luta pela democracia e pela melhora na vida dos menos favorecidos, além de um teólogo coerente com suas convicções.
P.S: A tragédia é para os homens não para Deus.  

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